Se
existe lugar profundamente associado ao espírito pagão, esse local terá de ser,
inevitavelmente, o círculo de pedras de Stonehenge (“pedras suspensas”),
localizado na planície de Salisbury, no sudoeste de Inglaterra.
John Aubrey (1626-1697) foi o primeiro historiador a
encontrar Stonehenge e, na altura, catalogou umas cavidades que encontrou no
chão do templo, que só foram escavadas no séc. XX e às quais atribuíram o nome
de Aubrey holes (buracos de Aubrey),
em sua memória.
Contudo
foi o clérigo Henry de Huntingdon, muito antes de Aubrey, que citou pela
primeira vez Stonehenge como uma incógnita histórica quando escreveu o seu
livro sobre a história de Inglaterra por volta de 1130.
William Stukeley, nascido nos finais do séc. XVII, foi dos
primeiros investigadores a tirar conclusões sobre este local. Foi ele o autor
de alguns dos mais antigos desenhos de Stonehenge, e com base nas suas
escavações afirmou que este monumento não era de origem romana ou
anglo-saxónica, mas sim celta! Nessa época, era atribuída uma origem “celta” a
todos os monumentos encontrados que não eram romanos, pois faltava a esses
estudiosos uma cronologia histórica, inexistente então. Infelizmente, este tipo
de erros sobreviveu durante muito tempo no imaginário coletivo e muitos foram
os que continuaram a acreditar que Stonehenge tinha sido construído pelos
celtas, e até mesmo pelos druidas! O trabalho destes dois pesquisadores foi,
ainda assim, extremamente importante no seu tempo, e ainda hoje são
considerados os fundadores do druidismo moderno.
Recentemente, em 1965, um astrónomo norte-americano, Gerard Hawkins,
descobriu que a partir do alinhamento de alguns pontos do monumento era
possível saber quando aconteceriam eclipses, o que reforça ainda mais a ideia
de que Stonehenge era um monumento de culto.
Existe
uma lenda do séc. XII, divulgada por Geoffrey de Mounmouth, que afirma que as
altas lajes usadas na construção de Stonehenge foram trazidas pelo druida
Merlim das planícies da Irlanda aquando da sua construção. Stonehenge, como
hoje é sabido, é uma construção que remonta ao Neolítico e terá tido profundas
reutilizações desde então. É bastante
plausível que este local tenha servido de templo para os antigos druidas, tendo
em conta a ocupação da área envolvente. Foram encontrados artefactos que chegam
ao período romano e medieval, o que comprova a sua recorrente utilização.
Crê-se que a ocupação do local remonta ao Mesolítico, teoria atestada pelos
buracos de implantação de postes aí encontrados. A estrutura foi sendo amplamente
modificada e aumentada, e as
sucessivas vagas de implantação foram decorrendo ao longo de milhares de anos.
Pode-se afirmar que a primeira estrutura terá sido erguida em 8000 a.C. e a sua
construção não terá estagnado até 1600 a.C.
As fases de construção deste imponente monumento serão alvo
de um outro artigo neste blog.
Adaptado de “Mandrágora
– O Almanaque Pagão 2011”, 1ª edição, 2010, Sintra – Portugal, Ed. Zéfiro